Com Lula fora da prisão, a polarização atrapalha Luciano Huck?
Com a saída de Lula da prisão, a polarização se acirrou. Lula livre, afinal, é bolsonarismo livre.
Nas frestas do acontecimento, outra coisa ficou clara: Luciano Huck representa a terceira força política embora sequer esteja confirmado no pleito de 2022.
Bastou deixar a prisão, Lula criticou a Globo e a alertou que “os mais ricos querem criar uma nova classe dirigente” em clara referência ao apresentador global. Já os bolsonaristas, fizeram o que sabem de melhor ao espalhar a fake news de que Huck teria emprestado seu jato particular ao ex-presidente.
A despeito das referências, a polarização deve enfraquecer o caldo de Luciano Huck — ao menos no primeiro momento. Bolsonaro re-atrai a franja anti-petista que não se sente à vontade com seus arroubos autoritários, mas menos ainda com os “comunistas”. E Lula, por seu turno, mobiliza o 1/3 do eleitorado de esquerda e recobra a imagem de “defensor dos pobres”, atenuando o contorno parecido que o Huck assistencialista do Caldeirão tenta desenhar.
Com tantos sentimentos à flor da pele, qual a chance de uma força de centro despontar? Não há meme “moderado” que tenha graça numa hora dessa, a não ser para ser chamado de “isentão”.
Em entrevista ao Valor Econômico, o presidente da câmara Rodrigo Maia, um dos adeptos da candidatura de Huck, deu a receita para a virada: “as pessoas vão cansar da polarização”.
Para que faça sentido, vale conjecturar como serão os próximos meses. Lula e Bolsonaro em campanha permanente. Ambos trocando ofensas enquanto se comunicam exclusivamente com os nichos do seu eleitorado. Oscilando sem parar entre o medo e ódio, a ameaça e o insulto, a corrupção e a milícia.
Em tempos recentes, a polarização cresceu durante o impeachment e no intervalo entre a prisão de Lula e a eleição de 2018. Ou seja, o acirramento durou alguns meses. Desta vez, sem eleição ou impeachment na esquina, faltam três anos para a próxima disputa presidencial. Não é, portanto, uma corrida de 100 ou 200 metros, mas uma maratona.
Em caso de fadiga eleitoral, a reação mais imediata é o distanciamento da política, sobretudo no que diz respeito ao eleitorado centrista, o que concentra a disputa nos candidatos imanizados a polarização.
Segundo o cientista político Octavio Amorim Neto, “na Venezuela bolivariana, Chávez e Maduro tiveram pleno êxito na depressão dos centristas”. E agora, nos Estados Unidos, “Trump tem agredido muito esse eleitor, sendo isso componente fundamental de sua estratégia eleitoral para o pleito de 2020”.
A diferença, no entanto, é que tanto os Estados Unidos quanto a Venezuela trabalham com voto facultativo. Por isso, no caso brasileiro, a hipótese é que o voto obrigatório pode facilitar a ascensão de algum candidato que esteja para além da polarização.
Se for assim, ninguém estará melhor posicionado que Huck. Enquanto Dória tem dificuldade de se distanciar de Bolsonaro (“Bolsodória”) e Ciro em relação à Lula, certas qualidades de Huck são trunfos como o sucesso empresarial, o bom mocismo e a generosidade que seu programa reforça a cada sábado. Não à toa, são características semelhantes às de Macron que há pouco liderou a “revolução centrista” na França.
Não faz muito tempo que a socióloga Esther Solano, uma das primeiras acadêmicas que levou o bolsonarismo a sério, realizou uma reportagem na Carta Capital em que chamou atenção para a viabilidade política do apresentado global. Uma das entrevistadas lhe disse: “Ah, se o Luciano Huck for candidato, eu voto nele, tem cara de bom moço, sempre assisto ao programa dele. Parece que se preocupa com a gente e o melhor de tudo é que ele não é político. Votava nele, sim.”
Se Bolsonaro continuar esbravejando sem que a economia reaja à altura, ou Lula só prometer reeditar o passado sem nenhuma espécie de auto-crítica, as portas a Huck estarão franqueadas.